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terça-feira, 29 de outubro de 2019

Passado

Olhos fixos no retrato em sua mão. Em pé ao lado da janela em um dia chuvoso,ele olha ela nos olhos...bem,nos olhos do retrato dela. Uma voz ao fundo pergunta- "Essa é a moça de quem o senhor tem me falado as vezes? Suzana não é mesmo?"
Um breve silencio toma o quarto.
Seu coração cheio de saudade nesse instante transborda aos olhos...
A voz tremula de um senhor já idoso diz a enfermeira...
"-É... Suzana sim,as vezes eu lembro de quem ela foi,ou melhor...do que deixou de ser.
De tudo o que eu ofereci a ela,sabe... das vezes que eu não pude olhar nos seus olhos e dizer o que o meu coração sentia... Das vezes que eu tentei fazer isso e uma parede rustica de indiferença bloqueou o sol do meu amor... De todas as vezes que eu tentei a abraçar e ela procurava algo pra trocar de comodo sem cruzar meu caminho...Das vezes em que eu beijei sua face e ela simplesmente se manteve estática...fria. Sabe enfermeira...o amor é como um piano antigo,de tanto se bater na mesma tecla,
ela se quebra,e algumas canções não fazem sentido sem determinadas notas..."
Soltou o porta retrato na prateleira onde ficava,secou as lagrimas que ainda se faziam presente e se retirou do quarto.
Sem dizer uma palavra,sem saber realmente o que dizer,a enfermeira simplesmente fechou a porta do quarto e saiu...mas aquele senhor fez uma marca eterna no seu coração...levaria aquilo na mente em todos os dias da sua vida...sentindo o peso da incapacidade,sem poder ajudar alguém que grita por socorro...

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